quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

REFLEXO 1.4

(Caspar Friedrich - O viajante sobre o mar de névoa -1818)


SUPONDO

E se eu dissesse que, como a ninguém, eu te amo?!
E te explicasse o grande sentido da vida?!
E te afirmasse que serias mais ouvida?!
E se eu te dissesse como de fato me chamo?!

Eu juraria não haver dores nem medos,
Se eu pudesse jurar. Não compraria flores.
Se eu pudesse falar ou findar os segredos,
Quem sabe se extinguissem os medos e as dores.

E se eu sofresse em todo o momento em que sofres?!
E se eu mais me esforçasse em servir-te, agradar-te...?!
E se eu te revelasse como abrir os meus cofres?!

E se eu te dissesse algo que nunca te disse?!
E provasse que penso em ti em toda parte?!
E que vivo supondo sobre ti?! E se...?!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

REFLEXO 1.3

 (Carel Willink - Simeão, o Estilita-1939 )

O ESTILITA*

*Anacoreta (religioso solitário) que vivia sobre pórticos e colunas em ruína

O que ele tinha para te dizer
Não estava em seus olhos,
Não estava em sua boca
Prestes a sair.
Estava na sua alma,
Bem dentro, se sentindo
Existir em seu desconhecimento.

E o que ele tinha para te dizer
Não pode ser dito.
Para sabê-lo terias que descobri-lo.
Mas como poderias
Ver a alma dele
E o que nela havia?

Ele acreditava que podias vê-la
Pois, ao que parece, ele via a tua.
(Mas não vistes. Não era para veres?)
O problema estava com ele
E não no que ele tinha para te falar.
O problema era maior do que ele acreditava.
O que ele não conseguia dizer
Começava com a declaração
De que tinha algo a te dizer.

Ele que tinha praticamente tudo
Para tentar se expressar.
Tinha as palavras, tinha a arte, tinha a tua atenção.
Mas algo lhe faltava.
No alto da coluna ele não encontrou,
Não entendeu, não desvendou.
Agora está lá, não consegue descer,
Como um dia não conseguiu te falar.
E ele ficará, só, triste, absorto,
Como não conseguiu ficar contigo.