quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

REFLEXO 1.2

(Belmiro de Almeida - Arrufos-1887 )

DETALHES SEM IMPORTÂNCIA

Sinais sombrios na sala
Chamam a atenção, no entanto
Ignora, ou faz vistas grossas.
Ela junta e olha as nossas
Fotos, reclama, se cala.
Nos olhos começa o pranto.

Eu digo que sinto muito,
“Surgem coisas que não temos
Como evitar”, que é o fim.
Me viro, ela vem até mim,
Me abraça, “superaremos”
Diz. Crê mudar meu intuito.

Eu a afasto. Ela pergunta
Quem é a outra e a insulta.
Digo que isso não importa,
Caminho então para a porta.
Ela, como louca ou estulta,
Me agarra gritando “nunca!”.

Histérica, faz aquela
Tal pergunta novamente.
Eu grito: “Cale-se”. Paro.
Por uns segundos a encaro.
Depois, a olhar fixamente,
Explico então que a outra é ela.

Faz que não entende. Chora.
Digo apenas que “não quero
Continuar assim”. Saio.
“Não és tu a quem eu traio.
Vais ficar bem, acho... espero...”
Afirmo antes de ir embora.

Deixo-a, por fim, se sentindo
Só, a pior das mulheres.
E eu me achando igual a todo
Homem. Ela, eu, nós, o lodo
Torpe de nossos prazeres
Seguiremos omitindo.

Fazendo (em nossa ignorância?)
Dos momentos dolorosos,
De uma estúpida humildade
E da desonestidade
Nas relações amorosas,
Detalhes sem importância.

Um comentário:

  1. Belo poema. E a imagem fez um diálogo maravilhoso com ele. Parabéns. Gostei muito do blogue.

    ResponderExcluir